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estudo sobre o vermelho
vermalho
vermelho
vermilho
vermolho
vermulho
verme-lho
verme no olho
o olho do verme
o verme do olho
os olhos do ver
o ver sem olho
o ver sem molho
o ver o malho
o ver o talho
ver sem tolher
ver-me
ver-lo
velho
la mer rouge ruge rui
los rubios los rubros los ruydos
ver-me do teu olho
o verme dos teus olhos
me dá os teus olhos
te vá dos meus olhos

preciso tanto ver

preciso e prefiro lhe ver

preciso é teu verde

para vermes, alho
para ver-mes, olho
ver-lhe mo mo mo
more mor mo moi
ver me lho
olhe-me em réve
en réve au rév oir oír o ar aux ar air air air
er re red der ver verde rede verde deva deves
ver de lho verdugo vertigo vermífugo
toccatta e fúgere
tocado e em fuga
amado e em fuga
desejado e em fogo
traído e em fosso
morto e em fóssil
decomposto e em fábrica
espírito e en flame
refrain me
a red flame a red flamingo
the red same the red shames
the red frames fra ames
in fraternum ames
ex profundis amem
E para tal não evoquemos
uma só gota de sangue:

ojo

hojo

h

o

j

o

s

Fernando

Ensaio sob a cegueira

Quem somos, percebemos.
Sem um único arranhão
do olhar limítrofe –
ou estirante-
de quem nos ajude
ou atrase a ser.
Não é a beleza que,
tardia, se oferece
a nossos entender
ou perceber.
É o ver, e,
por amor e amar,
mais ver.
Tardemos e ardamos,
pois, em ver,
para mais amar
e amor
(a e ao)
compreender.

sunny-morning-eight-legs (1)

A mais palavra da minha vida é
Vulnerabilidade.
( a Lucian Freud)

Vi e vivi o deformar e o destroçar das cores
e das carnes transvestido em refém
e algoz.
Do colorido e nem sempre perfumado
apodrecer do incolor
eu me houve o feroz.
Da essência ao aparente, sempre preferi
o volume morto ou mudo.
Olhei, senti e pintei por saber
da Beleza o dela e meu
difícil veludo.
Fui desta e dela olhar presente a dor,
Indecente, a dor.
Por tal e por menos me alegrei.
O que fui, sou, é o que era :
a Beleza e o serei.
Beleza não o é mais porque a pintei.
Busquei ou entendi com viver,
eis-me morto, como imaginei.
O que é meu me veio através, ao revés,
nunca para eu ter ou ser
mais que perder o devolver.
Eu entreguei a Beleza, a alheia em tudo,
a tudo, a minha,
com menos trama
que urdidura.
Quando a morte me sobreveio,
ela me foi só pintura.
E por pintura eu já morrera
e matara.
A lição do meu morrer é
eu sempre abrir os olhos
antes de os fechar.
Não fui bastante
nunca ou não
Amar.

dawson_lucianwithfoxcub2005_0

Desmundo

o poeta foi à floresta
para saber se era vida.
Houve luz e verso.
o pensar fendeu-se sem penar,
quase a cabeça do sujeito.
desgrávido, o poeta deu=se às trevas
para a alegria dos dias,
e não pariu phalas athena:
ao revés de deuses e guerras,
o poeta guspiu na velocidade da luz
um cupido bonito,
todo palavra,
o corpo antenado.
Houve idiogozo.
o gurumim doirado
deu a correr
de volta ao passado,
quase desembestado,
a busgar arco e flecha
de retesar desejo,
infância, tempo
da têmpera
do amado.
o destempero do amor
em desgozo
e mais gozo
de poesia,
ah,
este o poeta
já trazia e
sabia.

Paulo

Eu te como

Odisseu se desamarra ao mastro,
recorta as orelhas
e as atira à sirenas.
A lua, em Circe,
grafa no ruflar das vagas
um soneto copioso,
dos versos de luz:
– Uma ode ao seu,
já que não és meu…
De olhos abertos da noite,
sei astrobrilhos doutro amor.
Teu corpo, mare nostrum.
As minhas tristes chagas…
Remo de revoo e revolta
ao corpocoração:
Ítaca são outras plagas.
Eu te amo, sim e não.

pau

Adhorno e a ondina
(para Ana Cristina César)

Durante a minha vida
quiseram me fazer crer
que sempre haveria homens
amarrados ao mastro, eleitos,
para os quais as maravilhas
líricas e sutis entoariam
um poderoso e intocável
cântico de sereia…
Caberia, a mim e outros reles,
remar o trabalho, a surdez
e assistir,invejosos, o desesperado
alucinar dos poucos,
invejando-lhes a sorte
ou a riqueza inevitável
em seus idióticos meles.
Envelheci a ponto de ser
o ter o meu imaginário próprio
e rudimentar barco.
Pus-me
a remar sozinha,
sem saber se estava sobre a serpente,
a caravela ou apenas guiada à nau
pelos braços de Caronte.
As sereias não ousaram mais cantar e,
mudas, puseram-se em escamas,
a abrir-me um caminho seleno
dentre as noites-ondas.
Já posso morrer sem cera
ou loucura aos ouvidos:
parto sirena
e serena.

ana

Afresco

 

Acordei a sentir e imaginar

que cores tu farias no meu corpo

se um corpo eu tivesse.

Acordei a estrangular em mim

as cores que tu não fazes no meu corpo

já que um corpo tenho.

Não há problema em acordar sem ar, sem ti,

com as mãos nos pés, em busca

de algo que se pareça chão ou céu.

Há tanta coisa e tantos a se pisar

neste mundo de formas tão gastas e graves…

Não lamento que Deus me dê de presente o lamentar

as cores que estás a fazer em outras mulheres.

Não sei se é dor o que sinto ao  pensar

tais tristes e delicadas coisas.

Talvez seja só a velhice do amor.

Ou o nascituro de outra cor.

pés

Presente
( a Tarsila do Amaral)

Durante anos, tomei de arroubo
este Manteau Rouge, da bela Tarsila.
Vesti -o no íntimo, sem outro ruído
que não o de ainda haver arte, libro e libre
estampados a cinzel e esperança no meu ser.
Subi ao libré acompanhada do primeiro cavaleiro
apocalíptico sem luz, que apagou a salvação
do reino das costelas estelares do desamor.
Demorei a me livrar das sobras e das sombras
que a delicadeza embriagante do manto
deixou no revés dos meus ombros.
Vesti meu corpo da pintura do meu verso.
Não precisei cortar as orelhas para provar
que estava viva e que sentia e que o que dentro
estava a correr em mim era sangue mortal e plasma.
Fora o manto, os brincos também
me trucidaram o passado da alma:
ainda oiço o tilintar dos oiros do passado,
os sons decrépitos de sexo, do amor apressado
nas horas e honras das paixões inócuas,
que por anos acreditei serem indeléveis, infinitas,
eternas e memoráveis horas de profuso amor.
Hoje só há o terno, graças a Deus.
A ternura deu-me a redesenhar cada
nuance do vermelho, esquecer o rosa,
redescobrir o branco, a saber que tudo
nasce, se deslumbra e apodrece, feito
a maçã do barão na fruteira de cristal.
Que morra o passado e morram junto
os amores do passado. Viva eu, este dia.
Se eu tiver que escolher entre um copo de vinho barato
e a primeira taça de sangue refinado, grito por Dionísio.
Por Dionísio, pelo Nada e pelo espaço vazio…
Ficam os espaços vazios, o velho oleiro do espírito
sabe que não importa o quanto me esgrime, me esmere,
ou me recrie: há o mistério do inexplicável nada e vazio
que nunca se enche ou se cansa das formas, volumes,
cores, ranhuras, rabiscos e linhas da criação.
Eu jamais vou vestir outra vez as cores do Lobo.
Jamais vou esperar o incendiar do crepúsculo
para ter a sensação de que o amor pode ser
o mais caro preço a ser pago por alguém.
Desventuras à parte, o que há é o consolo
da floresta sem feras, sem homens feras,
sem coração feroz, mais a tênue esperança
de voltar a vestir não le manteau rouge,
mas o primeiro fio de lã vermelho-hematós
que arrombou, criador, a primeva aurora.
De Deus, da minha vida ou a que amanheceu
depois que morri levando comigo toda a cor.
Agora quero pintar bezerrinhos no pasto,
anjos de cara branca no céu e dar de comer
capim limão a pintores e poetas cuja fome
ainda me comove.

manteau_rouge mant2 mant1

Aquarela
 
 
Eu só quero que você saiba
 
que eu estou pensando em você
 
no vento que vai, no revés do tempo.
 
Com delicadezas de nuvem, sem tormento algum.
 
Como se eu fosse forma, volume, voz, beleza e cor.
 
Como se eu houvesse tudo, todo, nada e nenhum.
 
Campo-de-flores-aquarela-20x30
 
 

prozac

 

por onde for quero ser seu pai.

quero ser seu filho.

quero ser seu neto.

quero ser seu irmão, primo, padrasto, padrinho, cunhado, parente.

e em nada me parecer deveras, em  vero e em verso

com nenhum deles.

nem por teus sonhos.

b6