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ensaio sob a cegueira

 

amei a escuridão

com a certeza inabalável

de que nela havia luz.

réstia de luz.

fagulha de luz.

possibilidade de luz.

promessa de luz.

sonho ou invenção

de luz.

criação e nomeação

de luz.

foi quando Deus me acendeu

este homem com nome de 

luz.

aparecida

declaração e espólio

 

sonhei, em amor, muitas coisas na  vida.

nenhuma delas envolveu dinheiro, ambição,

ganância ou poder.

mesmo assim, pisoteei gente com e sem acaso.

houve o tempo da reparação e nunca o descaso.

sonhei, com amor, as muitas coisas da vida.

perdi muito tempo, tempo demais, sendo humilde e pobre.

perdi mais tempo ainda amando os pobres e os humildes.

não tenho nada para te dar, amor.

nada mesmo.

cada vez que uso um perfume ou vestido,

sei o quanto custa não tê-los e sonhar com eles.

graças a Deus estou agora preparada para as misérias.

as crianças da escola se aproximam a mim e

dizem que sou bonita e inteligente.

penso e sinto o mesmo delas.

talvez seja esta hoje a minha maior riqueza.

todo acúmulo tem lá os seus cúmulos.

himba9

apocalipsum

esta madrugada acordei com o vento.
fazia uma tempestade de folhas e nuvens.
o meus vestidos rodavam sozinhos ao céu,
tentando se desagarrar e desembaralhar
do varal.
era um balé violento de dobras e cores,
sem retorcido igual.
uma echarpe de seda colorida agarrou nos telhados,
segurei antes que ela alçasse voos.
entrei no olho do furação seminua,
tentando recolher o que era meu, do tempo.
o meu neto apareceu assustado, à porta,
pediu para eu voltar, disse que tinha medo.
Eu sorri e falei que ia terminar de colher
tudo, que ele podia ficar tranquilo que era
só a natureza.
ele se acalmou, como um sol na natureza.
ainda estava assustado e com medo, mas ficou
em pé à porta tranquilo, vendo o vento,
como os antigos nativos à beira do penhasco,
auscultando os augúrios, os sinais da chuva,
o prenúncio de destino nos tornados.
então deu-me um corforto enorme,
e eu desejei morrer assim,
com ele tão corajoso ao meu lado.
Que Deus me ouça, deste pedido,
o recado.

denise2

esta madrugada, perdi o sono.

abri a janela e vi um livro

voar. avoir, a voar, desculpa.

pensei ser o dos meus versos,

senti ser o dos meus dias,

sonhei ser o dos mortos.

havia tanta, tanta paz

no ruflar das páginas,

no aprumar das palavras,

no circular de arabescos

dos versos…

era só um livro.

ele desceu e pousou

junto a mim,

sorriu do meu rosto,

besta.

mostrou-me a face,

não era a sagrada escritura,

era só um livro.

pulo de volta

ao lugar.

Desbesta,

divina.

Bênção a dois

Uma vez, a maior das vezes,

eu não lembro em qual hora e dia,

pedi fremendo ,em fé, um amor.

na verdade, clamei pelo mesmo amor,

um amor antigo que se perdera de mim.

não foi para Deus que fiz o pedido.

foi para a mãe dele, gosto muito dela.

nas minhas dores, graças e lourdes,

ela deve ter ouvido, contou

para ele e para Ele.

Deus abriu, neste dia,

a minha vida do sagrado ao mortal.

Trouxe-me algo onírico, o real.

foi difícil receber de volta

este amor…

ele tornou a mim o sujo de mim mesma,

de tudo que eu era onde nem havia Deus.

senti medo, raiva, temor, solidão

e desesperança nas mãos.

era só isso que eu sabia sentir

e fazer com as mãos.

Veio o tempo, deixei o insano.

Fui escrevendo um verso novo

a este amor muito antigo.

demorou muito mais tempo.

mais e mais o amor eu escrevia

e Lia.

há um tempo para Labão

e um tempo para Jacob.

Não tive medo de aceitar

o que de Deus tempo eu queria.

)Se você nunca rezou por amor,

por um amor, por um antigo amor,

por outro amor, por mais amor,

reze.(

eu disse o nome de Deus

e o nome deste homem

e os dois ouviram.

senti o pedido, o clamor

e a oração  me serem devolvidos

à alma e ao corpo de Deus.

Deus é o clamor e o pedido

e a minha alma e o meu corpo

e ando com Ele e com ele

a toda infinita e amorosa

hora.

Por que eu não chamaria a Deus

de Deus e a este homem meu amor?

Era no próprio Deus que eu estava

quando ele me abriu o entendimeto

dos olhos e das palavras…

entendimento, digo.

espírito do reencontro, não estás sozinho.

espírito da afeição, não estás sozinho.

meu próprio espírito,não estás sozinho.

obrigada, senhor.obrigada, Luiz ,

eu estava tão sozinha.

agora não tenho mais fome

e posso além de clamar

e não reclamar,

escrever

os

Teus

nomes.

Senhor, faça o que quiseres

das minhas rendas,

mas me faças feliz.

Se não o fizeres,

serei a primeira a consolar-te

das feridas da lança 

do meu destino triste.

Senhor, é melhor fazeres

o que eu quero.

Pois eu não quero menos

que o sangue e a água

do teu querer.

Opus Dei

é a primeira vez que não sinto inveja
do teu corpo em outras mulheres,
e não te imagino afogado noutro sexo e noutro amor.
a minha poesia cresceu, está menor a tua dor.
quem me dera eu voltar a ser digna do desejo dos teus olhos,
mesmo ao desmontar e desmanchar das minhas carnes velhas
ao desesperar-me sem estilo ou refinamento algum
no dilacerar-me à fome dos espelhos pútridos da forma.
Estrangula o meu narciso, amor, pois que preciso o cisne de ti.
consola-me das feridas e escaras sem rasgar meu corpo à alma.
Beija-me espelhado com o que ainda tens e podes de espírito

para

eu encontrar algum consolo ainda falso na beleza e
não nas verdes vivas angústias tristes das janelas
em que não pude tua vida e o teu corpus.

vela e cavalo

o meu verso pastoreia, nada me fartará.
ando comendo um capim navalha feio,
mas sei que o breve passará.
sinto fome, sinto frio, menos cansaço.
o que mais quero é acordar flor do córrego
no arrebol do teu regaço.
não sei o que é o fim, mas sei o fácil
o meu poema de amor eu mesmo faço.